domingo, 27 de abril de 2014

um dia pra não esquecer



queria lhe dizer muitas coisas
mas minha boca foi calada,
entre a calada da noite e o amanhecer.
perdendo o sorriso que um dia ousei ter.

sorria para um novo mundo,
que ria do velho que um dia foi
que difamou a solidão,
para abraçar a coletivização

queria lhe dizer muitas coisas
mas o açoite me procura,
tirando meu sorriso,
sonhando minha tortura.

tentei lhe dizer muitas coisas
mas hoje não digo mais nada
minha voz foi calada,
por autoridade e procuração
mas isso hoje não importa
outras vozes virão.
       (Loreto,Thiago 25/04/14)

* para os camaradas do Sarau Comungar que ousaram tocar da ferida com poesias sobre a ditadura

quinta-feira, 24 de abril de 2014

funcionário do mês





O cansaço açoitava Rubinato como se o dia fosse noite. Olhava para os lados da rua que passará todos os dias que ia e voltava do trabalho, onde o cinza da cidade e a multidão de pessoas passam lá e cá, sem se perceberem, correndo para as minhocas de metal buscando o aconchego do lar.
João Rubinato, cinquenta e tantos anos, pai de três filhos, dois netos, 35 anos de empresa, quase funcionário do ano por quatro vezes, e com um grande apreço pelo patrão e um desprezo grande pelos amigos de trabalho.
Certa noite do dia Rubinato por todos os lados onde olhava via o que produzia: soleira, sapato, cadeira, calçado e cansaço. Era como se a vitrine da loja o chamasse:
- Rubinaaaaaaaaaato! Produza calçados
- Rubinaaaaaaaaaaato! Produza sapatos!
Por onde caminhava dá liquidação á produção as vitrines o mencionará. Diante das ilusões que sofrerá ao invés de procurar um médico especializado procura o Patrão – Bernardo, que o disse:
- Rubinato, isso acontece com todos, faça o que te dizem. Produza mais sapatos. Possivelmente os sapatos sentem falta do seu braço.
Rubinato  se perguntará internamente o que eu faço? Se minha vida toda dediquei aos sapatos, o que mais que querem? Que eu seja um deles?
Sem pestanejar e lembrando-se do ditado do seu falecido pai “ se não pode com ele junte-se a eles”. Rubinato entra na máquina de sapatos. E o resto da história nós já sabemos o que aconteceu.

Rubinato assim como outros tornou-se o que sempre quis ser : Funcionário do ano para sempre ser lembrado.
                                                                                 ( Loreto,Thiago; 22/04/14)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

soneto carnaval



não era carnaval
mas samba meu coração
que ouvindo a canção
tirou sua paixão para dançar.

não era carnaval
mas confetes foram lançados
marchinhas foram tocadas
mas só seu sorriso brilhava.

não era carnaval
mas assim como passa o bloco,
o samba e a paixão passou também,
 ( Loreto, Thiago)
.


terça-feira, 22 de abril de 2014

canção da realidade


minha terra tem pobreza
aqui e acolá
a fome que tem aqui
é a mesma que a de lá

nosso céu cheio de prédios
nossas pássaros como cegos
nossa vida cheia de tédio
nossos mares que mais e mais secam

cada dia que passa
menos prazer encontra cá
minha terra tem pobreza
aqui e acolá

aqui a vida é dura
cada dia mais pindura
menos prazer encontro cá

dia vai dia vem
menos prazer encontra lá
minha terra tem pobreza
aqui e acolá

não se esqueça de me avisar
caso um dia não voltar
se no meio do caminho
minha vida eu tirar
porque não quero novamente
por fome ter que roubar
 ( Loreto/Thiago)

 * uma outra versão de canção de exílio do poeta Gonçalves Dias(1823- 1864)

segunda-feira, 21 de abril de 2014

o muro


o muro caiu
o sonho ruiu
a classe dormiu

sem que você perceba
ou veja,
continuam lutar por ti

mesmo que você o renegue,
está sempre pronto a te ouvir,
compartindo angustias,
que insistem em te engolir.

o muro caiu
o sonho ruiu
a classe ressurgiu

apontando um novo futuro,
como aquele que sonharam para o mundo,
ressurgindo do escuro, modificando  presente em futuro,
que hoje percebe que não precisa mais de muros.
        ( Loreto, Thiago)

quarta-feira, 9 de abril de 2014

sinal fechado


na fila do metro lotado,
ou na do pão a disputa acirra a tensão.

  atenção- atenção- atenção
  liquidação-solidão- sofisticação

entre a lista dos demitidos
e a prateleira dos vestidos
o silêncio grita ao pé do ouvido : ilusão.

 atenção- atenção- atenção
 repressão- solidão- frustração

falas reprimidas
para ações contidas
convencida olha aborrecida
para multidão que olha mas não vê

ilusão- solidão-ilusão
           multidão
           atenção....atenção...atenção.

o sinal abre e sua vida volta ao" normal".
                 (Loreto, Thiago;primavera de 2014)