quarta-feira, 23 de julho de 2014

Lutemos!


Queria te escrever uma poesia
mas bombardearam a Palestina
e a inspiração passou.

Há tempos tento te escrever
mas o alvo é sempre o proletário
e me faltam vocabulário
para te escrever algo.

Quando não existirem mais Moinhos, nem UPP´S
Quando não existirem mais Pinheirinhos,
Talvez a poesia seja pra você.

Enquanto esperamos esse dia amanhecer
te escrevo esses versos
para não esquecer. E lutamos.
Lutemos para esse dia acontecer.

* Inspirado no poema de Solano Trindade chamado "Esperemos".

terça-feira, 22 de julho de 2014

sem titulo




cada passo
nessa cidade suja
é um berro em silêncio
que clamo  nas suas ruas São Paulo.

olho pro lado
e o lixo acumulado
serve de refeição
a humanos despejados.

do outro lado
no prédio de luxo
 brindam com vinho caro
 por mais um  local desocupado.

caminho e corro muito  na cidade
e quanto mais caminho
menos carinho vejo
em suas ruas cheias de carro.

quanta aliança
sem abraço.
quanta vida
desperdiçada em filas
por salário.

descansa com remédio
acorda com tédio
pensando na labuta
que tem que enfrentar.

a cidade não para (e como)
não para de exterminar
não para de humilhar
não para de jogar
a periferia pra qualquer lugar.

cada passo
nessa cidade suja
é um berro em silêncio
que clamo  nas suas ruas São Paulo
PARE!

quarta-feira, 16 de julho de 2014

impressões





Passou blush, verificou o horário, colocou os penduricalhos, olhou no espelho não viu nenhuma marca entre as roupas e saiu para ganhar a vida. Sabia que aquele horário era perigoso, mas era o único que conciliava com a escola de seus dois filhos que estudavam em horários diferentes. Sabia que gerava desconfiança no pai dos filhos, que a deixou sem explicar , talvez pelo seu trabalho, talvez por trocar o dia pela noite e não mais o acalantar.E o pior,o homem não ajuda nem na pensão.
Desconfiava, mas fingia não ouvir que quando voltava do trabalho as vizinhas comentavam sobre sua vida.
- Aquela ali, só trabalha pra gran fino, sente o cheiro! Olha as roupas que ela perambula.
- O meu marido disse que já a viu altas horas da noite, ali perto do cemitério do bosque. Vociferando.
Quando chegava perto o assunto mudava.
- Bom dia! Onde foi linda assim?
- Bom dia! Voltando do trabalho, como todos os dias, e cansada como sempre.
Não sabem o duro que é, ter essa vida noturna, aguentar cliente chato, que não pede, mas manda. Receber cantadas diariamente, ou noturna mente, como preferir( pensava a moça). 
Subia as escadas, quase que como aquelas pessoas que sobem para pagar promessas.
o filho, com um sorriso de orelha a orelha, pergunta.
- Atendeu bastante clientes, mãe?
Respondia a mãe
- Só gringo filho. Usei bastante o inglês. Você tinha que ver. To afiada.
o filho se aprontava. Olhou a janela e viu os amigos o esperando para ir a escola.
A mãe o beijou na testa.
- Vai com deus, filho!
O sofá torna-se a cama mais confortável do mundo e sonha o dia que o trabalho de recepcionista de hotel será menos desgastante, mas ainda sim sonha.
   ( Thiago Loreto 15/07/17/4)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

flores



como semente
que a vida aflora
e mudas
com muitas mudas
 inundas
a vida de cores
caso tu fores comigo
eu flores contigo.


* para camarada Najila que insiste em ler meus rabiscos.(14/07/14)

terça-feira, 8 de julho de 2014

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Atividade ilícita

                                                             


Beijou a testa do filho e saiu para o trabalho, mas não antes de esquentar o almoço, não antes de fazer a marmita e limpar a água que entrou de noite por baixo da casa. Sempre que chovia era um desespero, tanto para voltar para casa, pois não sabia o que ia encontrar em pé, quanto para atravessar a cidade . Acordou o filho e foi para o trabalho.
Era um dia importante, jogo de abertura da seleção. Arrumou a mala para ir a escola, comeu a comida requentada e saiu de banda para a escola, entretanto algo estava errado. Tudo estava fechado, da escola até o bar do "moço", se o bar do moço estava fechado a coisa tava complicada mesmo , o bar só fechava por motivo de morte na família ou porque a Polícia tinha ido lá cobrar um tal de “quebra”, quebra mesmo era ter o que vender e não poder, pensou o menino. Tudo fechado mesmo.
Voltando para casa o menino louco para chegar, brincar com amigos e esperar sua mãe, vê um grupo de pessoas reunidas, crianças chorando, idosos desmaiando e a polícia pedindo paciência e calma pra população. De pé de ouvido escuta que algumas casas foram invadidas por abrigar materiais subversivos. Chegando mais perto vê que a casa do velho estava cercada de policiais. Não entendia o por quê. O velho era uma pessoa amarosa com os vizinhos, organizava festas para os favelados, distribuía livros e doces para criançada, as vezes tomava uma cachacinha, mas também ninguém é de ferro né.
Enquanto isso do outro lado da cidade a mãe ninava uma criança que não era sua e escuta a televisão dizer que acabará de prender um dos maiores bandidos dos últimos anos. Disse que foi preso ser distribuidor de coisas ilícitas. Menino, mãe e favela não sabiam que doces, livros e alegria eram ilícitos a favela.
                                                                           (Thiago Loreto 10/06/14)


* cronica publicado no jornal dialética julho de 2014
http://jornaldialetica.blogspot.com.br/