segunda-feira, 7 de novembro de 2016

CUIABÁ







Ah Cuiabá
devorastes tua natureza
pra levantar seus prédios
e criar verdades falsas
da sua beleza natural
cem quilômetros fica o pantalnal
mas seria hoje no mesmo lugar
se não tivesse abraçado
a modernidade burra
dizimou teus índios
açoitou teus pretos
e para que?
roubaram teus ventos
vieram pragas
os mortos reaparecem pra governar

não se cale Cuiabá
teu povo trabalhador é forte
aprendeu com os índios
o que a terra ensinou
não se esqueça, Cuiabá
não se cale. Diante do mais do mesmo
não se cale...
primavera de 2016

no front



não me venha só
com poesia de luta.
nossa classe quer você
também na rua
declamando e cantando
nossas músicas no front.
( Loreto - Primavera de novembro)

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A prece - um conto fantástico



A prece - um conto fantástico

                                        ( Igreja nossa senhora da Irmandade dos homens pretos. Destroçada em 1930 em Guarulhos, ficava no calçadão quase em frente ao Poli)


- Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome...
O pai nosso rezado de joelhos e olhos fechados na praça do centro em frente ao Shopping Poli em Guarulhos. A negra de cabelos quase todo grisalho com roupas pouco envelhecida fazia daquele clamor cristão uma poesia declamada com eloqüência, incomodando o morador em situação de rua, este incomodado não pela roupa, não por ser negra, mas por ver aquela mulher ajoelhada no meio da praça, onde além de pessoas passando e prédios lá no horizonte se via a Igreja nossa senhora da conceição, imponente. Incomodado o morador de rua perguntou.
- Senhora, vai reza lá na igreja! Óia, não tenho nada contra religião, mas tem duas igreja aqui perto e você se ajoeia no meio da praça. Eu to avisano, porque daqui a pouco o guarda vai vir aqui pra te levar pro manicômio, e por experiência própria eu sei que eles não gosta de faze isso.
A mulher pestanejou, parou a reza por alguns segundos, pareceu um pouco atrapalhada com a observação apesar de parecer não entender muito o que o homem dizia, e voltou a rezar. Ele ainda continuou vendo que ela não questionou:
- Depois não vai dize que não avisei, os bicho são forgado.
“ mas livrais nos do mal, amém...”
Percebendo que seu amém não fez eco na simples igreja a mulher abriu os olhos e catatônica não entendia o que seus olhos de jabuticaba olhavam-casas que brotavam do chão e subiam mais alto que passarinhos, pessoas gritando em frente as “casas”  e ainda por cima convidando as pessoas para entrarem e olharem a exibição de coisas dentro da casa, gente...muita gente na rua passando de um lado para o outro umas mais rápidas outras nem tanto,algumas até com roupas diferentes,coloridas e umas com pouco roupa, chapéus diferentes...a igreja feita com suor e sangue negro foi resumida a uma mancha negra no chão.
Olhou para o morador de rua que a observava do banco da praça com seu cobertor. E o perguntou:
- Vóis me.....
E foi interrompida pelo guarda civil.
- Mulher, você não pode ficar ai, o direito é de ir e vir e não de ficar...largada.Vou chamar a assistência social ou SAMU pra te levar daqui. Ta doente, ta? Ô, não tem ninguém da sua família pra ligar, quantos anos você tem, trabalha, o que você está fazendo sentada ai? Você é vagabunda do teatro né? Só pode ser com essas roupas estranhas ai,só pode ser.
A mulher ainda catatônica, sem entender quase nada sobre a metralhadora de perguntas do guarda correu para o único lugar que reconheceu – a Igreja nossa senhora da Conceição.
O Guarda civil percebendo que a mulher correu
- Ei moça! Não corre não! Ta com medo de que? Ta com droga ai,filha da puta?!?
E o seu companheiro de trabalho o interrompeu:
- Deixa...é menos trabalho pra gente responder.
Entre o caminho viu negros de mãos dadas com brancos, mestiços com negros e brancos...ah,os brancos,mas algo que não entendia era porque uma parcela grande de negros encontra-se deitado na calçada com roupas diferentes... sujas, faziam da rua suas casas,diferente das pessoas que caminhavam pela rua sorrindo. Não agüentou e perguntou.
- és alforriado, negro?
O morador em situação de rua lhe pediu uma moeda.
- me dá um dinheiro, senhora. O bom prato ta lotado, não vou conseguir pegar a fila.
Sem entender o homem a mulher saiu andando.  Se assustou com muitas coisas descendo em alta velocidade da rua,nunca havia visto nada como aquilo se eram ilusões , bruxarias ou algum tipo de mandinga. Não sabia o que fazer para chegar até a igreja uma legiões de carros a dividia, nunca havia visto nada como aquilo, era como se fosse um pesadelo. Até que misteriosamente todos os carros pararam e pessoas atravessaram a rua com tranqüilidade, todos a olhando como se fosse uma selvagem, uma mendiga devido a suas vestes estranhas  e sua ansiedade quanto tudo que a cercava.
Pensou ela:
- Sé mandinga de sinhá. Mandinga pra mi acha. A pretinha da casa grande acha que é branca,Escravo que um dia foi como nói, mas acha que é menos preto...acha até que é branco.Óia lá! Óia lá!  Esses muleque preto acha que é branco.
Enquanto passava um grupo de meninos em frente a praça ela os abordou.
- Ei, muleque! Ei muleque! Tu! Tu, pretinho! Quem é sua sinhá? Ela dexa ocê com esas ropa?
E o menino rindo respondeu.
- ei tia! Ta doidona? Que que se fumo? Quero também! E ria
- oxi! Fali direito!Que no sé que se ta falando.
 Chegando perto da porta da igreja mirou a igreja de cima pra baixo,foi até a porta, olhou para trás como quem vê o nada, mas o material de pilão tinha sido substituído por espelho e lá se via,mas não reconhecia o mundo que refletia... o pedinte negro, o polícia – capitão do mato- correndo atrás dela mesmo sendo negra alforriada. Tudo a ela era estranho, mas lembrava o mundo que ela conhecia, era o velho travestido de novo ou o novo travestido de velho.
Entrando na igreja lembrava a igreja que um dia não pode entrar, onde era reservada apenas para os senhores e senhoras “de bem”, branco e com bens. Era como se fosse um mundo ao contrário porque lá dentro da igreja naquele momento tinham negros e negras rezando, alguns fazendo trabalho para a igreja outros não. O cemitério que um dia existiu em frente e dentro da igreja foi sucumbido, as pessoas que um dia foram enterradas lá não mais existia. Descompassada com a igreja benzeu a santa, se aproximou do banco ajoelhou e começou a rezar para que a mandinga fosse desfeita e que fosse embora daquele sonho- pesadelo de mundo que apesar de novo parecia muito com o velho, que apesar dos grilhões terem sido quebrados eles continuavam invisíveis para quem não quer ver. E assim começou a rezar :
- Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome...
 E todo mundo na igreja reparou e fez cara de asco, quando a moça com roupa diferente ajoelhou e começou a rezar.


       A prece-  Um conto fantástico.
 Guarulhos agosto de 2016

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

as rosas não falam



"... bate outra vez, com esperanças o meu coração,
pois já vai terminando o verão, enfim..."






Rosa, menina jeitosa
fazia da arte- parte da vida
partida entre sonho e Revolução
Não queria usar timão
mas explodir a casa grande
para acabar com a exploração

Rosa, faz da poesia armadura
pra acabar com a ditadura
que seguem com marcas sujas
 no preto/pobre/periférico.

Rosa, negra
cor perfeita
que a policia amassa
e mata em massa
nas periferias de qualquer lugar

Rosa,
semente que insiste em nascer
flor que nasce mesmo sem você querer
mas nasce
criando um novo amanhecer.


"... volto ao jardim com certeza que devo chorar,
pois bem sei que não queres voltar para mim..."

avohai






se eu pudesse ter lhe dito
as últimas palavras
talvez eu não estaria
escrevendo poesia
se eu pudesse
diria que foi
diria que é
que poderia ser
ser céu
se eu pudesse ter dito
diria vá
para um lugar
que voou
para um lugar
que um dia vou
voar com meu vô, evô(é).

quarta-feira, 20 de julho de 2016

dia de casamento






dia cinzento
pergunto ao tempo
o que ele insiste
em não mostrar
faço das verdades
perguntas para perturbar
deus existe?
o que importa se sim
e se não
se já não aparecendo
continua movendo
nação contra nação

abraça pobre
agasalha no frio
pro coitado não fazer Revolução
e seguir tendo calma com o patrão

Dia cinzento
e o vento frio
que corta o céu
passou voando
como vida depois dos quinze
o tempo passa
e a  gente trabalha
se faz frio ou sol a gente trabalha
a gente trabalha
a gente batalha
 e casa
e tudo muda para ficar igual

Dia cinzento
passou ameno
e eu continuo escrevendo
enquanto o tempo não para de passar,
  ( meados de maio)

quarta-feira, 29 de junho de 2016

quando te conheci



Quando te conheci, quer dizer
quando te vi
você não me viu
a terra parou de rodar
Cronos falhou
na tarefa do tempo controlar
e só eu...só eu via você.

Quando de fato você me viu
Órúnmílá sorriu
diante daquela sorriso que se abriu
quando meus olhos
encontraram os seus
e as coisas voltaram ao seu lugar
e a terra voltou a rodar.

inspiração






A inspiração acabou
levado pelos jornais  cheios de sangue
levado pelo sonho distante
pelo não passo "adelante"
que o comandante Che nos falou.

A inspiração acabou
depois que o muro caiu
depois que a "classe dormiu"
e a poesia recolhida não persistiu

A inspiração acabou
o poeta... o poeta ainda escreve
sentindo a dor do mundo
que ainda espera
a inspiração voltar.

sábado, 4 de junho de 2016

cai arvore, chuva e gelo, mas as contam só sobem



São Paulo é um loucura mesmo. Não é atoa que a faxineira terceirizada da empresa terceirizada de deslocamento de cargas diz que São Paulo é a terra do chove mas não molha. Como é que pode chover todos os dias da semana e faltar água pra tomar banho depois do trabalho? Ainda no mesmo    raciocínio ela sentencia: funciona como o meu salário que cai na minha conta e vai direto para as contas, as vezes sobra uma merreca pra cervejinha com  as amigas no forró de sábado.
Passando correndo pelo metro Anhangabaú indo para rua abolição vi um policial  ou guarda do metro não sei ao certo qual era, os dois usam roupa cinza, tipo de lixeiro( com todos respeito aos lixeiros), os homens de boina e cinza andam como ratos nas ruas, as vezes lento ou rápido e se chegar perto da viatura eles mordem. Mas sobre o que eu estava dizendo mesmo? ah, sobre quando passava correndo pelo Anhangabaú. Pois então, aquela região cheias de gente,prédios,peso e cimento, não sei como não cai. E uma arvore brotada da terra cai. Acho que são assim como eu, cansadas, elas quietas observam os impostos subindo...subindo e para ser diferente ou se vingar daqueles que não se rebelam diante a isso elas caem.
( Cronicas do centro - Thiago Loreto- 31/06/16- dia de chuva em sp)

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Tanto mar



tanto mar
que me falta amar
como amarelo do sol
com o raiar do som
a te achar
tanto mar
que quero te amar
e se falta algo
pra falar
é que tu fazes falta
tanto mar
que espero
que oxalá
os dias passem rapido
a falta nao faça falta
porque logo
vamos nos encontrar

caracas



en las calles de caracas
hay muchas caras
y la cara 
de Bolívar 
el libertador
son las calles.
(2/3/16)

revisitando


como disse Leminski
eu também disse
poesia
é tudo que não existe

e resiste ( 10/03/16)

Herança




Herança de capitão do mato
a polícia faz o cidadão de gato e sapato
Botinada que abre a porta do barraco
sem ter nenhum mandato.
Mandado pelo Estado
que o patrão pagou
que a merenda roubou
mas o trabalhador pagou.
rede globo faz a gente de bobo
leva repórter lá no morro
falando que o a culpa é do povo
por jogar lixo no esgoto
que caminhão de lixo nenhum
sobe lá na quebrada.

Herança do capitão do mato
a gente conhece o Estado
na sola do sapato
chutando a porta do barraco.
   (28/03/15)