terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Dia de natal








No dia no natal ia escrever uma poesia
mas a GCM invadiu a ocupação
ai perdi a inspiração
No outro dia comecei escrever um conto
mas um trabalhador foi morto
defendendo transexuais
e o conto parou.

Cada dia uma desgraça
toda hora repressão
a esquerda dividida
entre a coerência e coração

Eu continuo lutando e organizando
sonhando e chorando
por um mundo sem exploração

pelo fim da repressão
(25/12/16)







A conspiração



No último dia antes do fim do mundo a fiscalização geral de refugiados disse que cada pessoa só podia levar uma coisa para o abrigo e que caso funcionasse essas coisas deveriam ajudar a construir o mundo novo. O homem indeciso olhou sua casa, sentou no sofá observando tudo que havia na sala, chorou ao ver a comida do cachorro envelhecida, olhou o retrato da mulher que já tinha se despedido anos atrás para viver com outra pessoa em outro local. Viu sua estante cheia de poeira e livros – estes que fizeram parte de toda sua vida, por um instante um filme passou em sua mente e chorou. Agarrou um livro velho e surrado e aos prantos que não pararam de cair sob seus cabelos longos que atrapalhavam o escorregar das lágrimas. Parecia que a vida que ele tanto amava já havia findado antes do fim do mundo. Olhava ao redor da casa percebeu os retratos, regalos decorativos de amigos e um quadro mostrando uma possível glória com bandeiras vermelhas e pretas erguidas. Perplexo olhou o quadro, lembrou aquela história, sorriu sozinho diante de uma sala antiga e prestes a deixar para trás, quebrou o vidro que separava a foto e a rasgou. Foi à estante e pegou um livro cheio de letras douradas e com algumas orelhas parecia que havia lido a pouco tempo. Em letras garrafais lia-se: Bíblia sagrada Novo Testamento.

 O homem depois do choro e lamento lembrou que aquela coisa era a única que ele não poderia deixar para trás e ajudaria a construir a vida nova aonde talvez eles fossem se restabelecer. Abriu o livro: “Salmos 9:10 Os que conhecem o teu nome confiam em ti, pois tu, Senhor, jamais abandonas os que te buscam.”. E uma paixão cheia de confiança o tomou, aquele salmo só poderia ser uma mensagem do todo poderoso ao homem. Tudo aquilo passou a fazer mais sentido a ele, tudo seria uma aprovação que tinha que passar, todos os cultos, todas as dores, todas as dificuldades tudo não passou de um plano do senhor. Separou o livro e o colocou na bolsa, beijou a foto de sua ex mulher e  ainda antes de sair foi a cozinha admirou aquela comunhão que estava retratada  no quadro da santa ceia, fez o sinal da cruz e saiu.

Na porta do abrigo os fiscais verificavam o que as pessoas haviam trazido de coisas para levar e ajudar a construir o novo. O que os fiscais entendiam que  não ajudaria era descartado e a pessoa era obrigada a voltar e esperar a nova fiscalização, perigando não conseguir sair antes do fim do mundo. Só se ouvia os lamentos e tiros disparados para o alto devido as pessoas querendo invadir o local. Quando chegou a sua vez o homem olhou diretamente nos olhos do fiscal e tirou na bolsa aquilo que trouxe, sem pestanejar o fiscal o deixou passar.

Chegando sentiu o novo, o cheiro das flores inundava o ar,viu as pessoas felizes por estarem vivas e se reconhecerem como uma parte da outra e necessária para a nova empreitada. Enfim o mundo novo seria reconstruído, não era de fato o fim, mas o começo de outro ciclo. Não havia melindres entre as pessoas. O homem sem esquecer o que havia trazido para a construção do novo mundo o tirou da bolsa, olhou para baixo onde havia uma cova rasa de uma pessoa que não agüentou a viagem, olhou para pessoa, viu nos seus olhos abertos um caminho que teria que trilhar, se abaixou e colocou o livro dentro do bolso interno no defunto, tirando uma folha rascada de dentro. Pediu ao fiscal para tapar o buraco. E voltou admirar o mundo novo que esperará, olhando a foto da glória com bandeiras vermelhas e pretas erguidas.


                                                      A conspiração – 19/12/16.