(Ricardo Cammarota)
" O dia amanheceu impunemente, mas o vento sabia.
No mercado os índices suicidas se jogam das tabelas
enquanto o presidente encosta a arma na boca,mas não se decide...
convoquem todas as tropas: está solto meu id.
Não sei por onde escapou, por quais
alçapões, paredes falsas,
trilhas na mata, por qual vereda deserta, em qual quilombo,
por qual labirinto, por qual janela, em qual jangada,
pelos olhos de quem.... pelo corpo de que amada?
Estava ali,triste e preso como sempre....
ainda ontem lhe neguei um beijo,
ainda ontem pedi que esperasse,
ainda ontem lhe disse que não era hora...
Estava inquieto, é verdade...pressentia.
Para acalmá-lo li os horários dos vôos,
marquei reuniões,expliquei a importância do trabalho,
pedi que medisse seu desejo pelo tamanho do salário.
Meu id está solto...
não levou relógio, esqueceu a agenda,
não levou roupa, não pagou as contas,
esqueceu de dormir e de comer...
No Conselho de Segurança o
medo brota...
F18 hornets entram em vôo cego.
Sete Estados mobilizam suas frotas
em auxílio ao meu pobre superego.
O Pentágono e o Papa vacilam
entre a bomba e a culpa
e nas fábricas paradas, os operários que tudo faziam
decidem produzir orgasmos no lugar
de mais-valia."
(IASI,Mauro)