Beijou a testa do filho e saiu para o trabalho, mas não antes de esquentar o almoço, não antes de fazer a marmita e limpar a água que entrou de noite por baixo da casa. Sempre que chovia era um desespero, tanto para voltar para casa, pois não sabia o que ia encontrar em pé, quanto para atravessar a cidade . Acordou o filho e foi para o trabalho.
Era um dia importante, jogo de abertura da seleção. Arrumou
a mala para ir a escola, comeu a comida requentada e saiu de banda para a
escola, entretanto algo estava errado. Tudo estava fechado, da escola até o bar
do "moço", se o bar do moço estava fechado a coisa tava complicada mesmo , o bar só
fechava por motivo de morte na família ou porque a Polícia tinha ido lá cobrar
um tal de “quebra”, quebra mesmo era ter o que vender e não poder, pensou o
menino. Tudo fechado mesmo.
Voltando para casa o menino louco para chegar, brincar com
amigos e esperar sua mãe, vê um grupo de pessoas reunidas, crianças chorando,
idosos desmaiando e a polícia pedindo paciência e calma pra população. De pé de
ouvido escuta que algumas casas foram invadidas por abrigar materiais
subversivos. Chegando mais perto vê que a casa do velho estava cercada de policiais.
Não entendia o por quê. O velho era uma pessoa amarosa com os vizinhos,
organizava festas para os favelados, distribuía livros e doces para criançada,
as vezes tomava uma cachacinha, mas também ninguém é de ferro né.
Enquanto isso do outro lado da cidade a mãe ninava uma
criança que não era sua e escuta a televisão dizer que acabará de prender um
dos maiores bandidos dos últimos anos. Disse que foi preso ser distribuidor de
coisas ilícitas. Menino, mãe e favela não sabiam que doces, livros e alegria
eram ilícitos a favela.
(Thiago Loreto 10/06/14)
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