terça-feira, 7 de julho de 2020

devaneios


- era como se o rio fosse uma serpente, uma serpente gigante que cortasse toda cidade e desaguasse em vários lugares como se fossem filhos e filhas. Cabuçu, Piratininga, tiete e amazonas, são um desses filhos e filhas deixados para nós cuidarmos e criarmos, destes filhos chegariam nossa comida,nossa água para limpar,nossa vida. As anhumas se empoleiravam nas suas beiras para comer e depois rasgar o céu para os picos dos morros nhangussu de todas as cidades. Nossos meninos e meninas passavam o dia em volta de suas águas sem roupas brincando e se lambuzando com as frutas que caiam de pencas no chão. Nós observávamos de longe, sempre com alguém de olho para que a jaguatirica não se aproximasse para se alimentar de nossas crias. Outros caçavam teivgvacu para que tivesse alimentação para todo nosso grupo. A vida era assim, depois veio a borboleta gigante como nossos avós um dia nos disseram, eles nos levariam ao paraíso, nos levaria para terra que não havia doença, frutas e brincadeiras a vontades, entretanto, nossos avós não diziam que karaiba vinha junto trazendo com ele tudo de ruim que pudéssemos ver. E hoje estamos assim, esperando, lutando, recriando e ficando vivos para que um dia nossos ancestrais viessem nos buscar vivos ou mortos.

- por que nos esquecesse, eu pergunto. E só o silencio e vazio que nos responde.

Obrigado Professor Casé Angatu Xukuru Tupinambá. Obrigado Instituto Bixiga. Conhecimento é poder, conhecimento é transformação.

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