terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

ELA

 



Estive no HMU( Hospital Municipal de Urgências) de Guarulhos direto, sempre usei ele como referencia quando tive pedra no rim, dor de estomago, há muito tempo vou lá, teve um periodo que minha mae tinha convenio e eu era dependente dela e acabei usando algumas vezes o Carlos Chagas , acho que não era esse nome na época. Uma vez, há muitos anos, o HMU tava muito cheio( parece pleunasmo isso, mas é. Ahahha), e eu tava com uma crise renal bem pesada, acabei que usei a carteirinha de meu irmão com o RG dele porque tava sem convenio e o HMU cheio p/ caramba, mas isso é outra história, um dia eu conto. Entre idas e vindas depois da cirurgia quando quebrei a perna ,conversei com muita gente nas filas do ambulatório de Ortopedia e durante a internação também, as auxiliares de enfermagem e as enfermeiras foram sempre muito legais comigo, no sentido de para além do trabalho, mas de conversar mesmo, sobre os medos e dores etals. Nessa conversas o Ricardo que tava internado me contou um pouco sobre a vida dele, simploriamente eu tento reproduzir com as minhas palavras.

Indignado, o Ricardo  saiu do consultório, não entendeu quase nada que o médico disse, como sempre, mas soube que sua doença era seria, inclusive famosa e abreviada com algo que ele adorava, chamava-se ELA( Esclerose lateral amiotrófica). O desespero não o abraçou tão logo, entretanto, no trajeto entre a saida do consultoio ao carro seus pensamentos foram ganhando força, ganhando forma a ponto de não conseguir colocar a chave para abrir a porta. Seus pensamentos haviam devorado seu futuro, no qual ele não parava de se perguntar.

- Como será minha vida agora? Serei um estorvo para minha esposa. Como contarei para ela?  não irei mais trabalhar, não faremos mais viagens todos os anos para a Europa. O que será de mim, o que será de nós?

O homem por alguns segundos se calou, viu um flash, sua vida inteira passar pelos seus olhos,baixou a cabeça e se colocou a chorar.

- O que será dos meus bens? Meus filhos, sentiram nojo de mim, minha herança, minha carreira. E
setentenciou.

- Será que não rezei o suficiente? Não ajudei os pobres.

Ricardo é uma pessoa ativa ou pelo menos era, malhava todos os dias, era micro empresário da empresa, morava em um bairro de classe alta em Guarulhos, levantou de uma lojinha de ferramentas em um bairro periférico, para uma grande rede de lojas na cidade, contratando cerca de 4 mil funcionários. Sua mente fervilhava com a situação que o perseguia. 

- doença maldita! Por que comigo, deus?

….

Passaram alguns meses e a depedência era farta. O homem não mais se levantava, os pés que corriam 5 kilometros por dia não mal levantava, a comida era só sopinha, que ele pouco conseguia engolir, cena de filme. Não conseguia nem expressar o seu sofrimento com gritos ou gemidos, apenas com lágrimas, era a única coisa que restava, as lagrimas constantemente pulavam pelo seu rosto magro. 

Para sua alegria ou desespero.  Abre os olhos e percebe que está na sua cama, com sua esposa. Olha para os lados, para sua mão e aperta dos pés, levanta, acende a luz, beija sua mulher, que não. Percebe que havia sonhado um dos seus piores sonhos, sonhos não, pesadelo.  Explica a ela o ocorrido, dá um sorriso, um alivio por ter sido apenas um sonho. Olhando o despertador do celular percebe que já está quase na hora de trabalhar e levanta pra tomar banho pega sua roupa e vai para o banheiro. No banho, depois de deixar escorrer água pelos olhos e pelo corpo, faz força com as mãos para espalhar a água dos olhos,  as mãos não mais o obedecem, suas pernas passam a perder a força e periga cair no chão, gritou a mulher e a voz não saia, não tardou para ele lembrar do sonho.

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