terça-feira, 21 de junho de 2011

Considerações finais



Ao aportarmos nas considerações finais da presente pesquisa, consideramos que o fenômeno dos bolivianos é resultado do processo histórico que consolidou o Neoliberalismo na Europa, na América Latina e no Brasil. Buscamos com esta pesquisa trazer uma síntese de como se constitui este processo na cidade de São Paulo e como o neoliberalismo influiu e influi para a precarização da venda da força de trabalho em todos os aspectos, dando enfoque a venda da força de trabalho dos bolivianos na cidade de São Paulo.
Dialogamos com autores que trouxeram uma perspectiva de como era e continua sendo a situação dos países que passaram por tal projeto, vendo na Bolívia à máxima precarização da venda da força de trabalho, onde a média de vida de um trabalhador boliviano que começa a trabalhar em uma mina de carvão com dezoito anos é de no máximo quarenta e cinco, tendo sérios problemas pulmonares em decorrência das condições de trabalho.
Ao analisarmos o Brasil, observamos a adoção do projeto neoliberal, pelos governos de Fernando Collor e Mello e, posteriormente de Fernando Henrique Cardoso, que, como todos os países da América latina, trataram de privatizar a empresas estatais, vendendo-as para multinacionais e empresários brasileiros – muitas vezes com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Nacional – com o discurso de que era para o bem e salvamento do país da miséria. Aumento do desemprego em decorrência das novas tecnologias implementadas, perda dos direitos trabalhistas inseridos na Constituição de 1988 e desmobilização dos movimentos sociais e operário. Ou ainda, como nos mostra NETTO (2006):

Justamente essa metamorfose está na base do conjunto de extraordinárias mudanças que sustentam o “mundo novo” – alterações no proletariado, no conjunto dos assalariados, na reconfiguração da estrutura de classes, nos sistemas de poder, enfim na totalidade social que é constituída pela sociedade burguesa [...] A ofensiva do capital, no processo da sua mundialização, não resultou apenas na criação do maior contingente histórico de desempregados, subempregos e empregados precarizados e na exponenciação da “questão social; nem o anverso do “pós-fordismo” é somente a restauração de formas de exploração de homens e mulheres que o próprio capitalismo parecia ter superado. (2006, p. 237)


Quando abordamos os sujeitos de nossa pesquisa, conhecemos, por meio de suas falas – assim como de textos de outros pesquisadores do tema - as confecções empregadoras dos bolivianos. Contatamos, então, a superexploração pela qual são submetidos, recebendo salários de fome, dormindo e comendo no mesmo local do trabalho e, consequentemente, devido as condições precárias de trabalho – nas quais devem manter fechadas portas e janelas para que os vizinhos não ouçam o barulho das máquinas e denunciem sua ilegalidade e/ou a ilegalidade da empresa à polícia - desenvolvendo doenças respiratórias. No entanto, o discurso dos nossos sujeitos também expressa a questão dos ganhos nas referidas confecções e a ideologia do consumo, ainda que vivam em condições infra-humanas. Consideramos, contudo, as condições nas quais a maioria dos bolivianos vivia em seu país de origem e o sonho que os trazem às confecções paulistanas.
Entendemos que a hipótese da pesquisa, na qual sugeríamos que a oferta de trabalho e “salários gratificantes” para os bolivianos constitui-se no principal motivo para a migração dos mesmos para São Paulo, se mostra verdadeira. Esperamos, com a nossa pesquisa, contribuir para o debate do fenômeno dos bolivianos, associando-o à estrutura capitalista e a necessidade urgente de sua transformação.

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