terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

uber

 








Chamei um Uber para descer lá no São João, ali perto do antigo Galinheiro, onde hoje é a escola e um postinho de saúde. O nome do Uber era Renato e ele começou a conversar comigo sobre o trabalho, sobre o clima e do nada me perguntou. 

- Você acredita em espíritos?

Eu, sacana como sou respondi

- não acredito, mas também não desacredito, só tenho respeito aos mortos, porque aos vivos não é todo mundo que merece respeito.

Nem deixando eu terminar ele começou a falar o que aconteceu na viagem com ele ontem.

O aplicativo tocou as 14:00 horas, o sol estava torrando a moleira e minha água já estava quente, sabe só aquele pouquinho de água que fica no recipiente e eu estava morrendo de sede, mas resolvi ir buscar o passageiro primeiro e depois parava para tomar um café e beber agua, quando aceitei a corrida vi que era no jardim bananal. Eu rodo Guarulhos todos os dias, mas naquele bairro é pouco, quase nunca fui. Eu estava na praça 8, ali é bem pertinho, coisa de 20 minutos, fui embora chegando perto do endereço, errei uma das entradas e fui para perto de um trecho  em obras do rodoanel, voltei e peguei uma estrada de terra que era ruim de sinal de internet. Chegando lá era uma casa velha tipo casarão mesmo, aqueles casarão velho que tem no centro de São Paulo que por fora parece que não ninguém, mas dentro tem um monte de gente, fiquei pensando que não era possível alguém ter chamado Uber ali, achei que era roubo,  mas fiquei ligadão, tranquei as portas do carro, mandei mensagem e nada da pessoa responder, quando eu estava saindo, um homem e uma mulher elegante saíram do portão e vieram à minha direção, a mulher estava toda maquiada, bonita como se fosse sair para um festa, o homem também, porém estava de galochas e chapéu. Agora me diz, quem usa chapéu naquele lugar, boné tudo bem, mas chapéu, tipo aqueles chapéus de festa, ai já é a mais né, ainda mais naquele fim de mundo. Como eles estavam com bagagem desci para abrir o porta malas, os cumprimentei e eles me olharam, não me responderam e foram andando, contestei se não tinham pedido Uber e sem entender fiquei os observando até eles caminharem para a estrada. Me virei para entrar no carro e uma senhora com roupas mais comuns estava vindo  e me perguntou se eu estava perdido, se precisava de ajuda, expliquei a história toda, ela não entendeu e riu, mas me perguntou se eu não queria água, porque estava muito calor, lembrei da minha garrafa  que estava vazia. Entrei no terreno e perguntei sobre a casa velha. Ela me explicou que se tratava do Sítio da Candinha ou Casa da Candinha, é uma casa-grande, construída durante a escravidão, em meados de 1825 e herdada por Candida Maria Rodrigues em 1930, no qual vendeu partes da terra nos anos de 1950 em 1970 Candinha morreu, até que em 2000 a Prefeitura declarar patrimônio público, chamando de sitio da Candinha. Nisso a senhora perguntou se eu não queria entrar para conhecer, já que estava por lá, olhei o celular a corrida ainda estava em aberto, eu não iria cancelar porque ia perder pontos da Uber então resolvi deixar em aberto e ir lá conhecer. O casarão  todo acabado, algumas rachaduras e o teto estavam em aberto, tinha uma espécie de improvisação para não deixar entrar água nos cômodos, as janelas e portas gigantes, entrei em um quarto de casal  que tinha um oratório gigante, bem bonito, ainda assim ali dava arrepios, pensar que em baixo de tudo aquilo tinha um senzala começou a de dar medo. A senhora perguntou se eu não queria conhecer a parte de baixo, achei melhor não, mas ela insistiu e descemos e o teto era muito baixo dava para ver o vão entre a parte superior da casa, eu podia ver a sala e o quarto, a casa toda. Escutei um barulho na porta, olhei para o lado a Dona sumiu, olhei para o outro lado a porta estava se fechando, eu já estava desesperado quando comecei ouvir lamentos, aquele som foi crescendo, crescendo, que parecia que estava dentro da minha cabeça depois tudo ficou escuro e eu só lembro de ter caído no chão, quando acordei eu estava dentro do carro com os vidros fechados, esperando o passageiro, olhei para os lados e estava na frente da casa e a viagem ainda estava em aberto, cancelei a viagem dei meia volta no carro e peguei a estrada, no caminho vi um senhor com sacolas e um cachorro parei e perguntei sobre o endereço, ele disse que não morava ninguém lá há tempos, que a casa virou propriedade da Prefeitura de Guarulhos, mas que há tempos ninguém ia lá e que era impossível chamar Uber ali porque não região o sinal é muito ruim, agradeci e dei partida, olhei o celular e de fato não havia sinal, reparei no relógio eram 17:00 horas, não era possível eu ter ficado tanto tempo lá, reparei na minha garrafa de água e tava cheia. Fui embora e contei para mulher e ela disse que inventei, contei no grupo de whatzap do uber e uns riram e outros para eu ir na igreja. 

- Renato, se é verdade ou não eu não sei, só sei que vocês Uber trabalham muito, comem mal, e se estressam bastante, as vezes é isso, acho legal você procurar um pai de santo ou terapia para conversar sobre seu stress. E cara, para atrás daquele carro que estamos chegando;

Agradeci a viagem e a história quando saindo do carro o Renato perguntou:

- Ela não vai embora com você?  

Eu respondi:

- Ela quem, moto?

- Essa senhora que subiu com você.

Eu sem entender, olhei para o banco não vi ninguém, olhei para o motorista, ele sério, me sangue gelou todo. Olhei de novo para o banco não vi ninguém, olhei para ele... o filho da mãe estava rindo, agradeceu as 5 estrelas e saiu com o carro. Antes de eu perguntar se a história era real ou não.





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